Costuma-se
dizer que a cirurgia ortognática altera a “arquitetura da face”. De fato, após
o procedimento, ocorre uma mudança tanto estrutural quanto estética, fazendo
jus à analogia. E essa mudança na face
envolve frequentemente o nariz, motivo de preocupação de muitos candidatos à
cirurgia. O nariz está no centro da face, e sua forma é determinante na
composição da harmonia e caracterização individual.
Quais as proporções
ideais do nariz?
Existem
inúmeros estudos que procuram descrever as proporções ideais do nariz. Observe
alguns exemplos:
Relações ideais entre o nariz e o restante da face. |
Diferença entre os perfis do dorso nasal entre mulheres e homens (relação dorso-ponta).
|
Deve-se estar atento ao fato de que as proporções ideais do
nariz, servem de guia para as rinoplastias e reconstruções nasais, mas não
necessariamente precisam estar presentes em todas as pessoas para que se tenha
uma estética facial agradável.
Como a ortognática
interfere nas proporções do nariz?
Como observamos, a estética do nariz depende de dois
aspectos: a proporção entre o nariz e os demais componentes da face, e a
relação de medidas entre os componentes do próprio nariz.
Cirurgias mandibulares:
Embora não
haja manipulação da estrutura nasal, ocorre uma mudança proporcional na
projeção do nariz. Pacientes com retrognatismo (mandíbula retruída) ou
hipomentonismo (queixo retruído) apresentam um nariz proporcionalmente mais
projetado, dando, frequentemente, a sensação de nariz grande. Não é incomum que
pacientes com queixo retruído procurem por rinoplastias, julgando que o
problema está no nariz.
As cirurgias de avanço
mandibular tendem, portanto a tornar o nariz proporcionalmente menos projetado
na face, enquanto os recuos mandibulares isolados tendem a causar efeito
inverso.
Cirurgias avanço maxilar:
As
cirurgias de avanço maxilar alteram tanto as proporções entre o nariz e face,
quanto a própria estrutura nasal.
Durante a
osteotomia Le Fort I, realizada na maioria dos avanços maxilares, ocorre a
separação entre o septo nasal e o palato. Ocorre ainda, a separação entre as
estruturas que compõem a asa do nariz e o esqueleto facial.
Com o posicionamento anterior da maxila através da
Osteotomia Le Fort I, o dorso nasal ósseo permanece praticamente na mesma
posição, enquanto a ponta do nariz tende a acompanhar o movimento da espinha
nasal anterior. Esta dinâmica tende provocar uma rotação nasal, deixando a
ponta mais empinada e a giba (proeminência do dorso nasal) menos evidente. Além
disso, o próprio descolamento associado à maior pressão óssea sobre as
estruturas da bases alar, tendem a causar algum alargamento da base do nariz.
Resumindo: O avanço maxilar tende a
deixar o nariz mais empinado e um pouco mais largo em sua base.
Cirurgias de Impacção Maxilar
As cirurgias de impacção maxilar são
frequentemente realizadas para a correção do excesso vertical de maxila, responsável
por casos de sorriso gengival. Este é o procedimento que consideramos como de
maior repercussão na forma do nariz. Tendem a alargar tanto a base quanto a
ponta do nariz, deixando-a mais globoso. Ao mesmo tempo deixam o dorso
aparentemente menos evidente. Embora os trabalhos sobre o assunto mostrem que a
ponta se eleva após a cirurgia, o que observamos na prática, é que a base se
eleva mais que a ponta, dando a impressão de um nariz com a ponta mais caída,
em relação ao aspecto pré-operatório.
Resumindo: A impacção maxilar tende a
deixar o nariz mais largo, tanto na base quanto na ponta, o dorso menos
evidente e a ponta mais caída, em relação ao pré-operatório.
Cirurgias de Reposicionamento Inferior
da Maxila
A cirurgia de
reposicionamento inferior da maxila é realizada frequentemente em casos de
deficiência vertical da face média. Nessa situação o paciente não exibe os
dentes de maneira adequada durante o sorriso. Este procedimento causa um
reposicionamento inferior mais da base do que da ponta, deixando a ponta menos
caída.
Um outro
efeito, pouco descrito e observado mesmo por profissionais experientes, é a
perda de sustentação da ponta nasal. Com o posicionamento mais baixo da maxila,
fica um gap entre o septo nasal e a maxila. É como se o septo nasal
cartilaginoso ficasse flutuando, “pendurado pelas estruturas do dorso e do
septo ósseo. Na prática isso deixa a ponta nasal mais amolecida e com uma forma
menos definida.
Resumindo: com o reposicionamento
inferior da maxila, a ponta nasal perde sustentação e fica menos definida.
Contudo, pode-se apresentar menos “caída”.
O que pode ser feito para que meu
nariz não fique feio após a cirurgia ortognática?
Essa é uma
pergunta feita por muitos dos nossos pacientes. De fato, embora algumas
mudanças no nariz sejam até certo ponto previsíveis, é difícil antecipar a
repercussão que isso apresentará na estética da face. Entretanto, alguns
procedimentos podem ser realizados para prevenir efeitos indesejáveis na forma
nasal após a cirurgia. Alguns deles, como a plicatura nasal, já são realizados
pela maioria dos cirurgiões buco-maxilo-faciais. Como temos formação em
rinoplastia, também utilizamos algumas técnicas de forma adaptada, para
aumentar o controle sobre a estrutura e forma do nariz durante a ortognática.
A plicatura
nasal consiste em pontos dados nos tecidos da Asa do Nariz para evitar que
essas se alarguem em excesso no pós-operatório.
Dependendo do
quanto desejamos que o nariz se torne menos ou mais “empinado” após avanços
maxilares, podemos realizar desgastes na espinha nasal anterior e a fixação do
septo caudal mais anterior ou posteriormente.
Em cirurgias
de impacção maxilar, o cuidado maior é com relação ao risco de desvio de septo
iatrogênico, causado pela não remoção do excesso de cartilagem equivalente à
movimentação óssea da maxila. Nas reposições inferiores, utilizamos enxertos de
cartilagem para compensar o gap entre o septo caudal e a maxila. Durante a
cirurgia realizamos com frequência a remoção do músculo depressor do septo,
responsável por puxar a ponta do nariz para baixo. Diversas outras técnicas
comuns na rinoplastia são utilizadas para controle da forma nasal, como os
struts columelares, ressecções alares e raspagem de dorso. No entanto,
excetuando-se esses pequenos procedimentos, indicamos que as rinoplastias
propriamente ditas, quando indicadas ou desejadas, sejam realizadas apenas de 6 meses a 1 ano após a cirurgia
ortognática, tempo suficiente para a completa cicatrização das estruturas nasais.
CONCLUINDO...
Converse com seu cirurgião sobre quais mudanças podem ser previstas para o seu nariz e o que pode ser feito para evitar efeitos indesejáveis; mas esteja ciente de que em muitos casos o resultado é pouco previsível, e que você poderá requerer uma rinoplastia de 6 a 12 meses após a ortognática.
(Dr. Fábio Calandrini é Cirurgião-Dentista e Médico, especialista em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, pós-graduado em Cirurgia Plástica da Face).
(Dr. Fábio Calandrini é Cirurgião-Dentista e Médico, especialista em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, pós-graduado em Cirurgia Plástica da Face).