sábado, 12 de março de 2016

Bochechas Grandes – Quando a Bichectomia não resolve




A bichectomia é um procedimento que consiste na remoção de parte da gordura de Bichat, estrutura adiposa localizada na face. Quando se deseja ressaltar os contornos faciais e valorizar o resultado estético, sobretudo em faces mais arredondadas, podemos lançar mão da técnica. Técnica aliás que não é nova. Embora eu tenha visto alguns dentistas reivindicarem pioneirismo, a bichectomia é realizada em vários países desde a década de 80, e há quase uma década por nós (Dr. Fábio Calandrini e equipe).
Acontece que após reportagens em alguns meios de comunicação, discorrendo sobre a técnica e as celebridades que se submeteram ao procedimento, a bichectomia virou febre. Por estar ao alcance do Cirurgião-Dentista, centenas de profissionais da noite para o dia começaram a oferecer o procedimento a seus pacientes, e outros tantos se tornaram professores, em busca de pacientes para utilizar nos cursos.
Minha prática clínica é voltada para a cirurgia ortognática, e cirurgia facial estética. Não raro, tenho recebido pacientes que disseram ter se submetido à bichectomia, mas que se mostraram insatisfeitos. Boa parte considerou os resultados aquém do esperado. Alguns não notaram diferença e houve dois casos de pacientes com a face assimétrica após a bichectomia.
Conversando com os pacientes e com alguns colegas Cirurgiões-Dentistas que frequentaram algum entre os numerosos cursos de bichectomia, cheguei a algumas conclusões, sobre o porquê de tantos pacientes frustrados.
Primeiramente, me parece que alguns cursos falham em ensinar adequadamente a propedêutica para se indicar o procedimento. Ignoram considerações sobre noções craniométricas, estrutura óssea e muscular, avaliação da gordura subcutânea, pele, etc. Dessa forma os profissionais que saem de muitos desses cursos não estão seguros sobre quando indicar e quando contraindicar a bichectomia. Por este motivo, falham em esclarecer ao paciente sobre as limitações de cada caso, criando muitas vezes, expectativas irrealistas. Basta lembrar que em muitos dos casos de pacientes que procuram pelo procedimento, a queixa é de “bochechas grandes”. Acontece que esta queixa, deverá ser traduzida em diagnóstico a partir de uma avaliação clínica adequada. Há casos em que a queixa do paciente é multifatorial, resultando simultaneamente de características ósseas, musculares e subcutâneas, cada uma delas em graus variados.
Me parece também que pode haver por parte de alguns profissionais a falta de conhecimento anatômico adequado sobre a gordura de Bichat. Essa estrutura possui uma porção pterigóidea e uma outra infratemporal, que se retiradas, não geram nenhum benefício estético, além de submeter o paciente a riscos desnecessários. Dependendo de onde se realiza a incisão para a bichectomia, e de como é feita a dissecção, a porção bucal pode não estar sendo acessada adequadamente, ou as demais porções podem estar sendo desnecessariamente removidas. Daí os casos de assimetria pós-operatória.
É importante esclarecer ao paciente que a bichectomia não muda o contorno, e muito menos, o padrão facial. Pacientes braquicefálicos, com a musculatura mastigatória (masseter) proeminente são os que se frustram com maior frequência, sobretudo aqueles com tecido adiposo subcutâneo mais abundante.
Assim, para cumprir o papel de atender à queixa do paciente, é preciso compreender as estruturas faciais que contribuem para as bochechas volumosas, bem como oferecer o tratamento ideal para cada caso. E nos casos em que o tratamento estiver fora do alcance técnico, indicar o paciente a um profissional que possa executar o procedimento adequado (osteoplastias, mioplastias, lipoaspiração e tratamentos não cirúrgicos).


(Dr. Fábio Calandrini é Cirurgião-Dentista e Médico, especialista em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, pós-graduado em Cirurgia Plástica da Face).