domingo, 3 de agosto de 2014

O que poderei comer após minha cirurgia ortognática ?


Uma alimentação adequada, em quantidade e qualidade, contendo todos os nutrientes que o organismo necessita, tem demonstrado ser uma das principais fontes para promoção e manutenção da saúde e redução dos riscos de doenças nutricionais.

Os candidatos à cirurgia ortognática devem estar informados, desde o pré-operatório, quanto aos critérios na alimentação no período pós-cirúrgico. Antes de partir para a preparação de um plano alimentar, vamos compreender as alterações que ocorrem no organismo submetido a uma cirurgia ortognática:

1 – Alterações Sistêmicas (do organismo).

Após um procedimento cirúrgico e anestésico, nosso organismo é submetido a um estresse orgânico que repercute com a produção de uma série de hormônios e substâncias. Dentre esses, destacamos a importância do cortisol, da adrenalina e das citocinas.
O cortisol tem um importante papel anti-inflamatório. Mas também é responsável por alterações no metabolismo dos nutrientes e no mecanismo da fome. Altos níveis de cortisol e adrenalina, como os encontrados após as cirurgias, induzem á maior disponibilização de nutrientes na corrente sanguínea a partir da gordura e dos músculos, contribuindo para reduzir a sensação de fome. Porém, é importante observar que essa redução da fome ocorre à custa do emagrecimento e da perda de massa muscular. Assim, a dieta pós-operatória deverá ser planejada de modo a equilibrar essas perdas.
As citocinas, por sua vez, são moléculas produzidas em grande quantidade após cirurgias. Embora tenham grande importância na modulação da resposta imunológica, algumas delas são responsáveis por induzir estados catabólicos (aumento de consumo energético), além de inibir a fome.
Assim, em resumo, temos no pós-operatório imediato de uma ortognática, uma situação em que há inibição da fome, e ao mesmo tempo um aumento do gasto energético e dos níveis de hormônios catabólicos. Uma dieta adequada será fundamental para uma rápida recuperação do organismo, evitando a perda excessiva de proteínas e outros nutriente essenciais.

2 – Edema
          
É de amplo conhecimento por parte dos candidatos à cirurgia ortognática, que o procedimento resulta em considerável edema (inchaço). O fato, é que este edema não ocorre apenas externamente. Ele também ocorre “para dentro”, ou seja, há edema dentro da boca, do nariz e na região da orofaringe. Este fato limita a ingestão de alimentos mais consistentes, sobretudo na primeira semana após a ortognática. Mais um elemento a ser levado em consideração na preparação do plano alimentar do paciente.

3 – Cicatrização Óssea

Para que ocorra cicatrização dos ossos da face na nova posição, é fundamental que haja completa imobilização entra os segmentos fixados. Atualmente conseguimos tal imobilização através da fixação com mini-placas (de titânio ou absorvíveis). O fato é que, mesmo com as mini-placas, os segmentos não permanecem completamente imóveis se submetidos às forças mastigatórias. Os potentes músculos da mastigação, quando colocados em função habitual, podem levar a pequenos movimentos, ou mesmo a deslocamentos ou fraturas das placas. Desta forma, a consistência dos alimentos é um importante aspecto a ser levado em consideração durante as sucessivas fases de recuperação após a cirurgia.

CHEGOU O DIA DA CIRURGIA. E AGORA?

Entendido o porquê das restrições alimentares no pós-operatório da cirurgia ortognática, vamos às possibilidades.
Nas 8 horas que antecedem o procedimento, é necessário o jejum completo, inclusive de água. Isso dará maior segurança ao procedimento anestésico, evitando que alimentos e líquidos no estômago seja aspirados (deslocados para o pulmão). Após a cirurgia, o retorno à alimentação e hidratação oral normalmente se dá normalmente após a alta da sala de recuperação pós-anestésica.
Na primeira semana indicamos alimentos líquidos, com poucos resíduos, de preferência frios ou gelados. Devem ser ingeridos com alta frequência. Sucos integrais, caldos coados, e alguns suplementos alimentares ricos em proteínas são usualmente prescritos por nossa nutricionista.
Na segunda semana, haverá maior tolerância por alimentos mais pastosos, como cremes, açaí e purês. Qualquer tentativa de mastigação está proibida. Mesmo que seja para frango desfiado ou carne moída! Extendemos essa recomendação para a terceira semana.
Na quarta e quinta semanas, a introdução dos alimentos semi-sólidos será permitida. Aí entra o arroz, feijão e legumes, desde que bem cozidos. Carnes somente processadas, que não exijam trituramento pelos dentes.
Na sexta semana inicia o retorno gradual à alimentação regular, de modo que com 6 a 7 semanas, o paciente já tenha recuperado seu padrão alimentar anterior à cirurgia.
É importante ressaltar que cada paciente apresenta necessidades individualizadas conforme sua composição corporal, hábitos alimentares, idade, extensão do procedimento, etc. Em nossa equipe contamos com uma nutricionista que fará uma avaliação detalhada do seu caso, preparando um plano alimentar específico. Nossos pacientes passam pelo exame de Bioimpedância com o equipamento Inbody, que analisa de forma precisa a massa magra, massa adiposa e água do organismo. Essa análise é feita antes e 6 semanas após a cirurgia, para avaliarmos o impacto nutricional da cirurgia no organismo.
Para um resultado excelente é preciso pensar em tudo!
Texto: Dr. Fábio Calandrini